Cáries de radiação são mais agressivas do que as normais

07:41 Blog do Adeildo Alves 0 Comentários


O dentista faz o tratamento pré-radioterápico para que a saúde bucal seja menos prejudicada no processo.© Fornecido por Cartola O dentista faz o tratamento pré-radioterápico para que a saúde bucal seja menos prejudicada no processo.
O tratamento de pessoas com câncer nas regiões da cabeça e do pescoço tem um impacto significativo na qualidade de vida desses pacientes. Além de acometer áreas relacionadas à fala e mastigação, ele também pode trazer prejuízos sociais e emocionais. Uma das opções terapêuticas para esse tipo de tumor é a radioterapia, mas, apesar dos avanços tecnológicos que permitem localizá-lo mais rapidamente e direcionar os feixes radioterápicos, ela ainda causa efeitos secundários, como a cárie de radiação. 
A cárie de radiação é consequência direta da xerostomia (boca seca) ocasionada pelo tratamento radioterápico. O paciente sofre redução do fluxo salivar, o que torna o ambiente propício para o estabelecimento da doença. Esse tipo de cárie se diferencia pela progressão rápida e a forma mais agressiva com que atinge os dentes. Sem tratamento, a doença pode levar à destruição completa da coroa dentária e desmineralização dos dentes. 
A radioterapia deixa a boca mais sensível e dolorida por causa da mucosite, dificultando o processo de higienização oral. Como a mucosa está inflamada, o paciente busca alimentos mais doces, que costumam ser pastosos e macios, porque é o que ele consegue comer sem sentir dor. “A dieta rica em sacarose é cariogênica. Já que as bactérias utilizam a sacarose como fonte de alimento, elas se proliferam e secretam ácidos como seu produto final, que levam à calcificação do esmalte dentário”, afirma a cirurgiã-dentista e professora da disciplina de patologia bucal da Universidade de São Paulo (USP) Marina Gallottini (CROSP 34881). 
O paciente irradiado produz pouca saliva e de qualidade pobre, que não é capaz de neutralizar os ácidos secretados pelas bactérias e nem de remineralizar o esmalte dos dentes.
O ideal é que, antes de iniciar a radioterapia, ele seja examinado e tratado por um dentista que conheça e tenha experiência nas sequelas desse tipo de tratamento. O profissional vai remover todos os possíveis focos de infecção que a terapia pode originar, dentes com maior risco de desenvolver cárie ou doença periodontal e aqueles que necessitam ser extraídos para evitar situações que vão se tornar mais graves ao decorrer da radioterapia. “O dentista faz o tratamento pré-radioterápico para que a saúde bucal seja menos prejudicada. Dessa forma, os riscos ficam reduzidos ao iniciar a radioterapia”, ressalta Marina.
Os cuidados com alimentação e escovação também são fatores importantes para manter a saúde bucal. Dietas não cariogênicas são leves em carboidratos e, portanto, dificultam a proliferação de bactérias, porque os índices de sacarose ficam baixos e elas não têm alimentos o suficiente para se reproduzir. “A higiene rigorosa é a melhor prevenção”, esclarece Marina. A professora destaca que o dentista deve incentivar e estimular os bons hábitos, dentre eles orientar o paciente a comer alimentos que ajudem na higienização oral. 
Outras complicações do tratamento odontológico em  relação à saúde bucal são perda do paladar, aumento do risco para a osteorradionecrose (a radioterapia provoca uma alteração nos vasos sanguíneos, tornando o osso menos irrigado e, consequentemente, mais vulnerável a infecções e com menor capacidade de cicatrização), doença periodontal e, às vezes, trismo ‒ os músculos mastigatórios se contraem, o que provoca uma constrição mandibular. A cárie de radiação destrói o dente e, muitas vezes, não dói. Ela surge até uns três meses depois do término da terapia radioterápica.  
O tratamento de uma cárie de radiação é como uma restauração convencional. “O dentista remove o tecido careado e coloca o material restaurador, por exemplo, o ionômetro de vidro ou resina fotopolimerizada”, informa Marina. O paciente irradiado na região de cabeça e pescoço deve ter mais cuidado com a saúde oral em comparação ao período anterior à radioterapia. É recomendado evitar alimentos muito açucarados, consultar o dentista a cada três meses, escovar os dentes no mínimo três vezes por dia e fazer bochecho diário de fluoreto de sódio não acidulado durante um minuto ‒ hábito que deve ser mantido mesmo depois de o tratamento ter sido feito. A pessoa precisa estar motivada e instruída para cuidar da saúde bucal, do contrário o trabalho do profissional vai ser pouco eficaz a longo prazo.

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