Falta de pagamento ameaça tornozeleiras eletrônicas em Pernambuco
Falta de pagamento ameaça tornozeleiras eletrônicas em Pernambuco
Cerca de 1,7 mil detentos do sistema prisional do Estado que usam tornozeleiras eletrônicas podem ficar sem monitoramento a qualquer momento. O motivo é uma dívida de cerca de R$ 1 milhão que o Governo de Pernambuco tem com a Spacecom, empresa paranaense que fornece os equipamentos para o sistema penitenciário desde 2013. O débito é relativo aos meses de julho, agosto e setembro.
De acordo com a lei de licitações, a interrupção do serviço por parte da empresa contratada está prevista após atraso de 90 dias no pagamento.
Por telefone, de Curitiba, o presidente da Spacecom, Sávio Bloomfield, explica que tomou conhecimento de uma nova licitação que o governo do Estado estaria elaborando, para a aquisição de outras 4 mil tornozeleiras. “Eles estão em débito com as atuais, como podem querer o dobro em novos equipamentos?”, contesta.
Segundo ele, os atrasos na quitação dos serviços se intensificaram no início de 2015. “Já houve pagamento feito com mais de 400 dias de atraso, e sem qualquer reajuste ou multa”. Bloomfield afirma que no mês passado foi quitada a parcela relativa a julho. O executivo diz apenas querer que o contrato firmado entre as partes seja cumprido. “Quando um governo assume o compromisso com um serviço, tem que ter dotação orçamentária para isso”, frisa, adiantando que não fornecerá novas tornozeleiras ao governo do Estado enquanto o impasse não for resolvido. O contrato entre o governo do Estado e a Spacecom termina em outubro de 2017, podendo ser renovado.
Para o promotor da 19ª Vara de Execuções Penais, Marcellus Ugiette, o prejuízo com uma eventual interrupção do serviço seria grande. “Não apenas o sistema deixará de monitorar os reeducandos que já existem, como ficará impossibilitado de estender o benefício a outros, aumentando o encarceramento e a superlotação das unidades”, diz. Pernambuco tem 31 mil presos para cerca de 10 mil vagas.
A lei 12.258 (2010) prevê que o monitoramento eletrônico via tornozeleira seja adotado para autorizar saídas temporárias do regime semiaberto e para detentos condenados a prisão domiciliar. “Também pode ser utilizado, por exemplo, em casos de condenação pela Lei Maria da Penha, em que o homem deve ficar a uma certa distância da mulher que ele agrediu”, explica Ugiette.
O promotor diz estar ciente do impasse envolvendo a Spacecom e o governo do Estado, e torce para que seja encontrada uma solução rapidamente. “O Estado precisa investir ainda mais no monitoramento eletrônico, pois ele representa uma economia no sistema, promovendo o desencarceramento responsável e evitando a superpopulação, que é causa de tantos problemas”.
Marcellus Ugiette explica que, em julho deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela adoção da prisão domiciliar com monitoramento eletrônico para os casos onde não houver vaga no regime semiaberto.
Por meio de nota, a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) limitou-se a informar que “o atraso no pagamento dos serviços relativos ao monitoramento eletrônico ocorreram em razão de divergências de valores entre a empresa contratada e o governo”. Ainda de acordo com a nota da Seres, está em curso uma negociação para que esses valores seja atualizados e que a situação seja regularizada.
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