Com Bolsa Família bloqueado e sem saber ler, mãe de cinco recorre às ruas para pedir comida: 'escolher morrer do coronavírus ou de fome'

05:27 Blog do Adeildo Alves 0 Comentários


Por Pedro Alves, G1 PE


'Escolher morrer de fome ou de coronavírus', diz mãe de 5 que teve Bolsa Família cortado
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'Escolher morrer de fome ou de coronavírus', diz mãe de 5 que teve Bolsa Família cortado
"Eu tive que ir para o Centro da cidade, esperando esse povo que para, em um carro, distribuindo refeições. Agora, me diga, como é que o governo nos diz para ficar em casa, se nossa dispensa está vazia? Daqui a pouco vamos ter que escolher morrer do coronavírus ou morrer de fome".
O depoimento é de Rosângela Pereira da Silva, 31 anos de idade. Mãe adolescente, solteira, ela teve o primeiro filho, hoje com 17 anos, aos 14. Os outros quatro têm 14, 11, 10 e 2 anos. Desempregada, ela sustentava a casa e os filhos com os R$ 380 recebidos do Bolsa Família, que, inesperadamente, foi cancelado (veja vídeo acima).
Sem ter o que comer, ela não teve outra opção a não ser quebrar o isolamento social para pedir, nas ruas do Centro do Recife, alguma refeição.
A pandemia do novo coronavírus deixou ainda mais vulneráveis as 1.125.559 famílias que, em Pernambuco, sobrevivem do auxílio do governo federal. No caso de Rosângela, que mora no Coque, que também fica no Centro da capital, os efeitos foram imediatos, já que, sem a única fonte de renda que tem, ela só não passou fome por causa da ajuda de conhecidos e desconhecidos.
Rosângela mora no bairro do Coque, no Centro do Recife — Foto: Reprodução/WhatsAppRosângela mora no bairro do Coque, no Centro do Recife — Foto: Reprodução/WhatsApp
Rosângela mora no bairro do Coque, no Centro do Recife — Foto: Reprodução/WhatsApp
O desemprego, para ela, sempre foi uma constante na vida, já que, sem oportunidade de estudar, nunca aprendeu a ler. Analfabeta em uma época em que, cada dia mais, a leitura se torna material central da força de trabalho de muitos empregos, fica ainda mais difícil entrar no mercado.
"Em março, as coisas já estavam difíceis, aí fui na lotérica passar meu cartão e pegar o dinheiro do Bolsa Família. Quando cheguei, só saiu a parcela do 13º, porque a menina do caixa disse que estava bloqueado. Perguntei o porquê e ela disse que o papel dela era apenas me dar o dinheiro, e que estava bloqueado, sem justificativa", disse Rosângela.
Sem saber ler, a mulher sequer conseguia entender o que dizia a máquina em que o cartão foi inserido. Também por causa disso, ela não soube procurar ajuda pela internet ou em canais digitais de atendimento. Por telefone, para ela, também fica difícil repassar os dados dos documentos. E em meio à pandemia, o mais impossível era sair de casa para tentar obter informações de forma presencial.
"Eu recebo R$ 380 e, com esse valor, alimento meus cinco filhos. Sou mãe solteira, não tenho marido e esta é a minha única fonte de renda. Já há dois meses não recebo meu benefício e estou vivendo da ajuda das pessoas", afirmou.

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